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Plâncton

Plâncton
Obras em vídeo originais para transmissão online, criadas por três autores de renome na arte contemporânea portuguesa: Pedro Tudela, Tatiana Macedo e Henrique Pavão.

Destes vídeos, espera-se que alimentem os espíritos curiosos, circulando sem barreiras, horários ou destinatários fixos, tal como o difuso plâncton nos mares.

Uma encomenda de Aveiro 2024 - Capital Portuguesa da Cultura.
TEMPO
de Pedro Tudela
Video HD (p/b som, 13'11'') 

O ponto em que o Tempo e o Vento se encontram, onde a matéria é arrancada da ilusão de permanência, é onde se revela a verdade da existência.
Neste lugar de encontro, onde a essência do que é revelado se torna clara, compreendemos que não há princípio nem fim, apenas o eterno desenrolar de uma trama sem guião fixo, onde o Ar e o Tempo nos convidam a fazer parte da dança.


© Pedro Tudela, 2024 
 
RED FLOWER
de Henrique Pavão
Video HD (cor e p/b (filme Super8 transferido para digital, som, 9'15'')

Quilómetros de película a preto e branco servem de combustível para a cozedura de três esculturas de terracota em forma de urnas, que mais tarde viriam a proteger as cinzas do combustível que as solidificou.

Câmara - Carolina Trigueiros | Câmara Super8 - Henrique Pavão | Montagem de imagem e som - Henrique Pavão e Miguel de Jesus | Mistura e Masterização de som - Gonçalo Barão da Cunha | Correcção de cor - Henrique Pavão e Miguel de Jesus | Revelação e digitalização (telecinema) pelicula Super8 - Camila Vale | Agradecimentos - Carolina Trigueiros, Carla Revez, Gonçalo Barão da Cunha, João Bragança Gil, Miguel de Jesus, Galeria Bruno Múrias

© Henrique Pavão
O ACORDO
de Tatiana Macedo
Filme a partir de negativo fotográfico P&B de médio formato (6x7), sem som, 2’59’’

Este ano comemoramos 50 anos de democracia em Portugal. Há 20 anos, em 2004,  último ano como estudante de Fine Arts na Central St Martins College of Art  & Design em Londres, fotografei estes objectos no estúdio da Faculdade em Charing Cross Road.*

Inspiradas em imaginários díspares como a utopia de prazer ‘infernal’ do “Jardim das Delícias” de Bosch ou o niilismo da linha do horizonte nos mares fotografados a p&b por Hiroshi Sugimoto, e atordoada com o cinema de Pasolini, percebo hoje o meu fascínio (ou declínio) por uma espécie de ‘História universal da violência’ e a ‘procura do nada’  - um existencialismo feroz (no entanto, belo). Também a vida nos objectos mundanos, ‘objecto-corpo’ e cultura material, referências como os objectos ‘performados’ de Pina Bausch, Joan Jonas, Sigurdur Gudmundsson  e João Penalva, os alimentos em putrefação lenta nas naturezas mortas de Sam Taylor-Wood (agora Sam Taylor-Johnson), os cenários ‘dantescos’ dos irmãos Chapman na sua evocação aos “Desastres da Guerra” de Goya, são facilmente identificados na minha imaginação.

Uma pequena cadeira e uma planta moribunda num vaso, que pedi emprestados ao meu colega de faculdade David, as minhas botas do dia-a-dia naquela altura  (apelidadas por mim como as minhas ‘botas de trabalho’) trazidas de Portugal e fabricadas com sola de pneu no Alentejo, pouco amigas dos pés, mas que por algum motivo me recordavam da luta dos que resistiram ao fascismo - talvez uma certa iconografia da bota militar, mas de fabrico artesanal, associada ao povo, ainda que tal analogia possa ou não ser factual; e um tecido de algodão para tela, comprado numa loja de tecidos da Rua dos Fanqueiros, dobrado durante os anos que passei na faculdade, à espera de ser pintado - e que nunca foi.

Alusão a uma História da imagem, mas mais ainda a uma história de trabalho e de uma constante luta, de várias lutas, porque o meu caminho e o da minha família próxima nunca foi fácil, e provavelmente não é suposto que o seja, quando prevalecem convicções, pensamento crítico, esperança, empatia, ambição, e um sentido de Humanidade no meio de tantas contradições.
 
* Edifício icónico onde estudei, estúdio onde passei horas sozinha a experimentar luzes, câmaras, fundos, ficções, (foram aqui alunos Gilbert & George e outros artistas de culto, “Common People” dos Pulp também o refere e diz-se que os Sex Pistols deram ali o seu primeiro concerto). Poucos anos após a minha graduação, o edifício cedeu à especulação imobiliária e  foi transformado num complexo de lofts de luxo - The Central St Martins Lofts.

© Tatiana Macedo, 2024